Fiscalização
rigorosa e punição exemplar são usadas para reduzir mortes no
trânsito em outros países
A diretora do Departamento de Álcool e Trânsito da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Júlia Maria Dandréa Greve, lida há anos com o problema da ingestão de álcool pelos motoristas e suas conseqüências. Nesta entrevista à Agência ABCR, ela fala sobre o papel da educação e da fiscalização como meio para acabar com as mortes causadas no trânsito em razão do consumo de álcool.
A diretora do Departamento de Álcool e Trânsito da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Júlia Maria Dandréa Greve, lida há anos com o problema da ingestão de álcool pelos motoristas e suas conseqüências. Nesta entrevista à Agência ABCR, ela fala sobre o papel da educação e da fiscalização como meio para acabar com as mortes causadas no trânsito em razão do consumo de álcool.
Agência
ABCR – Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP)
mostrou que, dos motoristas e motociclistas que morreram em acidentes
de trânsito na capital paulista em 2005, 45% deles tinham consumido
bebidas alcoólicas. Como você avalia esses dados?
Júlia
Greve – O uso de bebidas alcoólicas é uma das principais
causas de acidentes com vítimas fatais e com lesões graves. Jovens
do gênero masculino são os mais atingidos por esse tipo de
ocorrência. Apesar da importância desses dados, a sociedade
brasileira ainda não percebeu a gravidade de dirigir sob efeito do
álcool. Dirigir alcoolizado é tão letal quanto portar uma arma.
Temos instrumentos para coibir esse comportamento, uma vez que o
Código de Trânsito Brasileiro prevê punição exemplar a esses
condutores. O que falta é fiscalização. Sabemos que a fiscalização
de forma efetiva já permite reduzir muito os acidentes de trânsito
com mortes.
ABCR – Por que é tão difícil convencer as pessoas de que o risco de acidentes é alto quando se dirige alcoolizado?
JG
– Ingerir bebida alcoólica é um comportamento muito ligado a
comemorações e festas e a maior parte das pessoas tem dificuldade
de perceber a ligação de um comportamento festivo com uma atitude
de risco. Além disso, o primeiro efeito do álcool é suprimir a
autocrítica, fazendo com que o indivíduo se sinta mais poderoso e
capaz de realizar todas as coisas de forma melhor, inclusive dirigir.
A fiscalização e o medo da punição precisam ser implantados de
forma ostensiva, para que a consciência do ato seja despertada. A
fiscalização rigorosa e a punição exemplar estão na base de
todos os programas de redução de morte no trânsito de outros
países. Alguns países implantaram e fazem cumprir de forma muito
rigorosa a alcoolemia zero na direção veicular, e conseguiram com
isso reduzir muito as mortes por acidentes de trânsito.
ABCR– Como funciona o programa de treinamento de policiais rodoviários em São Paulo para o diagnóstico de abuso no consumo do álcool ao volante?
JG
– Em janeiro de 2006, conseguimos um avanço na fiscalização do
condutor embriagado, que foi a de permitir que um policial pudesse
autuar uma pessoa que mostrasse sinais de embriaguez. A Abramet
divulgou os principais sinais e sintomas que podem ser observados nas
pessoas embriagadas. Foi, então, feito um filme, com o patrocínio e
ajuda do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) e da
Fundação Mapfre, com o suporte científico da Abramet, do
Departamento de Ortopedia e Traumatologia e da Disciplina do Trauma
da Faculdade de Medicina da USP. Esse filme foi replicado e
distribuído para todas as unidades de policiamento rodoviário
federal e do Estado de São Paulo. Foram feitas algumas palestras
para todos os oficiais da Polícia Militar Rodoviária Estadual de
São Paulo e algumas para os policiais envolvidos na fiscalização
da Concessionária ViaOeste, pois essa concessionária vem realizando
um programa permanente denominado Zero Álcool em todas as rodovias
sob sua concessão (o Sistema Castello-Raposo). Nessas palestras,
foram ressaltadas as dificuldades da fiscalização do condutor
embriagado, a importância do uso dos etilômetros (bafômetros) e,
também, a importância de haver um grande suporte de fiscalização,
pois sem ele os acidentes não vão diminuir nem em número nem em
gravidade.
ABCR
– Em sua opinião, então, a fiscalização e a punição são
medidas mais eficazes do que a educação para coibir a alcoolemia na
condução veicular?
JG
– A educação dos novos e futuros condutores, com destaque para a
questão do álcool e suas conseqüências no trânsito, e as
palestras de valorização da vida e da cidadania são importantes,
mas seus efeitos surgem em longo prazo. Necessitamos, agora, de ações
que tragam resultados imediatos, porque os números de mortos no
trânsito brasileiro são muito altos para nosso nível de
motorização e tendem a crescer ainda mais com esta recente explosão
de vendas dos veículos automotores. Programas rigorosos e ostensivos
contra os condutores alcoolizados são as medidas mais eficazes para
trazer resultados nos prazos necessários. A educação é um pano de
fundo, que tem muita importância para reforçar o necessário bom
comportamento. Mas, certamente, não é suficiente e, algumas vezes,
pode ser até ineficiente, caso não se coíba a impunidade.
ABCR
– Proibir a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos
próximos às rodovias é uma solução?
JG– Não é uma solução, como ação isolada, mas ajuda no sentido de não facilitar o acesso às bebidas nas rodovias. Somente restringir a venda de bebidas não vai resultar em uma diminuição no número de acidentes. Mas é mais uma das tantas medidas necessárias para que o binômio "se beber não dirija" e "não dirija se beber", que anda tão desmoralizado, seja levado a sério. Reduzir os acidentes relacionados com o uso de bebida alcoólica é um grande desafio e é uma luta permanente na qual todos os envolvidos precisam colaborar. Beber e dirigir é um comportamento que precisa ser "demonizado" pela publicidade, como, de certa forma, aconteceu com o ato de fumar. As pessoas devem viver o seu cotidiano de acordo com estes preceitos: não dirigir após beber e, se beber, passar a direção a quem não bebeu; ir e voltar de táxi; ter uma carona segura. Indignação é bom, ajuda a levantar as questões, mas é preciso mobilização efetiva para modificar um comportamento leniente que está presente no Brasil. Chorar os mortos e usar a emoção para sensibilizar as pessoas é importante, mas, mais uma vez, não é suficiente para mudar comportamentos. É preciso exigir que as leis sejam cumpridas, dizer um não à impunidade de todos (famosos e não-famosos) e exigir dos governantes ações concretas contra esta praga que está ajudando a matar nossa juventude. Considerando que apenas uma morte no trânsito custa aos cofres brasileiros R$ 400 mil (números de 2006 do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e que treinar e equipar a polícia com etilômetros custa R$ 4 mil (preço de um equipamento), cada morte evitada pode comprar 100 etilômetros para a polícia, que, assim, será capaz de fiscalizar e punir condutores embriagados.
JG– Não é uma solução, como ação isolada, mas ajuda no sentido de não facilitar o acesso às bebidas nas rodovias. Somente restringir a venda de bebidas não vai resultar em uma diminuição no número de acidentes. Mas é mais uma das tantas medidas necessárias para que o binômio "se beber não dirija" e "não dirija se beber", que anda tão desmoralizado, seja levado a sério. Reduzir os acidentes relacionados com o uso de bebida alcoólica é um grande desafio e é uma luta permanente na qual todos os envolvidos precisam colaborar. Beber e dirigir é um comportamento que precisa ser "demonizado" pela publicidade, como, de certa forma, aconteceu com o ato de fumar. As pessoas devem viver o seu cotidiano de acordo com estes preceitos: não dirigir após beber e, se beber, passar a direção a quem não bebeu; ir e voltar de táxi; ter uma carona segura. Indignação é bom, ajuda a levantar as questões, mas é preciso mobilização efetiva para modificar um comportamento leniente que está presente no Brasil. Chorar os mortos e usar a emoção para sensibilizar as pessoas é importante, mas, mais uma vez, não é suficiente para mudar comportamentos. É preciso exigir que as leis sejam cumpridas, dizer um não à impunidade de todos (famosos e não-famosos) e exigir dos governantes ações concretas contra esta praga que está ajudando a matar nossa juventude. Considerando que apenas uma morte no trânsito custa aos cofres brasileiros R$ 400 mil (números de 2006 do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e que treinar e equipar a polícia com etilômetros custa R$ 4 mil (preço de um equipamento), cada morte evitada pode comprar 100 etilômetros para a polícia, que, assim, será capaz de fiscalizar e punir condutores embriagados.
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