SINDPRF-CE
- 27 DE JUNHO DE 2011
Há
tempos desenvolvo subterfúgios para não desanimar perante as
dificuldades enfrentadas em nosso trabalho. Os mecanismos de defesa
do ego se utilizam da racionalização para tentar me proteger das
pressões e paradoxos do serviço público. Se por um lado há uma
demanda demasiada de serviço, por outro encontramos péssimos
administradores que não se preocupam com a coletividade, mas sim com
seus próprios interesses muitas vezes escusos.
O
ciclo parece se fechar quando conseguem desmotivar um servidor
policial que outrora fora dotado de vibração, ideologia e vontade
de fazer. O que diferencia um policial motivado de um desmotivado é
que os ainda motivados são movidos pela irracionalidade da paixão e
como um apaixonado, desenvolve estruturas para justificar toda a
ingratidão de sua amada. Não me vejo como um total apaixonado, mas
assim como os bêbados, os apaixonados também são incapazes de se
determinar como tal.
Talvez
minha paixão me faça ver que na sociedade brasileira, o custo do
serviço público é enorme. Nossos parentes, amigos, vizinhos,
inclusive nós mesmos, somos pagadores dessa enorme conta que
desfalca nosso orçamento em aproximadamente 40%. A princípio não
haveria problema nenhum em pagar 40% de nossos rendimentos, contanto
que não tivéssemos que pagar duas vezes pelo mesmo serviço. O
valor pago em impostos é revertido, em tese, para a saúde,
educação, segurança, justiça, desenvolvimento; e demais áreas de
atuação estatal. O problema é que alguns de nós não se contentam
com os péssimos serviços oferecidos e pagam novamente: saúde
(planos de saúde), educação (escolas e faculdades particulares),
segurança (empresas de segurança); e por aí vai nosso dinheiro.
Fazemos parte do serviço público da parte de segurança pública.
Sei que as necessidades no serviço são enormes, mas me envergonha
tomar parte nessa acomodação imposta pela aceitação da situação.
Não quero associar minha imagem a imagem pejorativa de um
funcionário público. A instituição na qual trabalhamos reflete
nossa imagem. Se a imagem que estamos projetando na instituição é
de desânimo, apatia, conformismo; nossos amigos e parentes irão ver
essa imagem e irão associar essa imagem a nós.
Alguns
podem falar que não somos culpados pelo estado em que as coisas
estão, porém vos digo que todos são culpados, se não por ação,
mas por omissão. Ser ético é muito mais do que não ser corrupto.
Ser ético como policial passa por não ser omisso, por não permitir
atos ilegais ao seu redor, dentre outras situações. Ser ético como
cidadão-policial contribuinte de impostos passa por cobrar da
própria instituição, meios e recursos necessários para prestar os
serviços devidos à sociedade massacrada pelo pagamento de impostos,
mais que merecedora de serviços de excelência, visto que pagamos
tantos impostos quanto cidadãos de países de primeiro mundo.
A
imagem do policial relaxado, omisso e corrupto tem que ser apagada da
memória da sociedade através de nosso esforço coletivo. Para que
possamos nos orgulhar de pertencer a uma PRF de resultados concretos
e não maquiados, deveremos arregaçar as mangas e fazer a nossa
parte, entendendo que a ética vai além da não corrupção. A ética
passa por cuidar de uma sociedade da qual fazem parte nossos
familiares, nossos amigos, nossos vizinhos. Talvez a paixão por
estas pessoas me faça ter criado toda essa estrutura racional para
continuar acreditando que uma nova PRF é possível, que novas
instituições são possíveis, que um novo Brasil é possível.
“Todo
homem é poeta quando está apaixonado.” Platão
PRF
Azevedo
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