terça-feira, 21 de agosto de 2012

A ÉTICA, ALÉM DA CORRUPÇÃO


SINDPRF-CE - 27 DE JUNHO DE 2011

Há tempos desenvolvo subterfúgios para não desanimar perante as dificuldades enfrentadas em nosso trabalho. Os mecanismos de defesa do ego se utilizam da racionalização para tentar me proteger das pressões e paradoxos do serviço público. Se por um lado há uma demanda demasiada de serviço, por outro encontramos péssimos administradores que não se preocupam com a coletividade, mas sim com seus próprios interesses muitas vezes escusos.
O ciclo parece se fechar quando conseguem desmotivar um servidor policial que outrora fora dotado de vibração, ideologia e vontade de fazer. O que diferencia um policial motivado de um desmotivado é que os ainda motivados são movidos pela irracionalidade da paixão e como um apaixonado, desenvolve estruturas para justificar toda a ingratidão de sua amada. Não me vejo como um total apaixonado, mas assim como os bêbados, os apaixonados também são incapazes de se determinar como tal.
Talvez minha paixão me faça ver que na sociedade brasileira, o custo do serviço público é enorme. Nossos parentes, amigos, vizinhos, inclusive nós mesmos, somos pagadores dessa enorme conta que desfalca nosso orçamento em aproximadamente 40%. A princípio não haveria problema nenhum em pagar 40% de nossos rendimentos, contanto que não tivéssemos que pagar duas vezes pelo mesmo serviço. O valor pago em impostos é revertido, em tese, para a saúde, educação, segurança, justiça, desenvolvimento; e demais áreas de atuação estatal. O problema é que alguns de nós não se contentam com os péssimos serviços oferecidos e pagam novamente: saúde (planos de saúde), educação (escolas e faculdades particulares), segurança (empresas de segurança); e por aí vai nosso dinheiro.

Fazemos parte do serviço público da parte de segurança pública. Sei que as necessidades no serviço são enormes, mas me envergonha tomar parte nessa acomodação imposta pela aceitação da situação. Não quero associar minha imagem a imagem pejorativa de um funcionário público. A instituição na qual trabalhamos reflete nossa imagem. Se a imagem que estamos projetando na instituição é de desânimo, apatia, conformismo; nossos amigos e parentes irão ver essa imagem e irão associar essa imagem a nós.

Alguns podem falar que não somos culpados pelo estado em que as coisas estão, porém vos digo que todos são culpados, se não por ação, mas por omissão. Ser ético é muito mais do que não ser corrupto. Ser ético como policial passa por não ser omisso, por não permitir atos ilegais ao seu redor, dentre outras situações. Ser ético como cidadão-policial contribuinte de impostos passa por cobrar da própria instituição, meios e recursos necessários para prestar os serviços devidos à sociedade massacrada pelo pagamento de impostos, mais que merecedora de serviços de excelência, visto que pagamos tantos impostos quanto cidadãos de países de primeiro mundo.

A imagem do policial relaxado, omisso e corrupto tem que ser apagada da memória da sociedade através de nosso esforço coletivo. Para que possamos nos orgulhar de pertencer a uma PRF de resultados concretos e não maquiados, deveremos arregaçar as mangas e fazer a nossa parte, entendendo que a ética vai além da não corrupção. A ética passa por cuidar de uma sociedade da qual fazem parte nossos familiares, nossos amigos, nossos vizinhos. Talvez a paixão por estas pessoas me faça ter criado toda essa estrutura racional para continuar acreditando que uma nova PRF é possível, que novas instituições são possíveis, que um novo Brasil é possível.

“Todo homem é poeta quando está apaixonado.” Platão
PRF Azevedo

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